em Enem & Vestibulares

No início de março o MEC anunciou várias mudanças para o Enem. Uma delas é que não haverá mais a divulgação das médias por escola a partir da edição de 2017. O argumento é de que o governo não tem a função de apoiar a publicação de propaganda que visam o marketing de escolas e grupos de educação.

Tão logo foram anunciadas às mudanças, chegaram a nós questionamentos se o ranking do Enem iria acabar. Após conversa com outros especialistas e um pouco mais distante do calor do momento, avaliamos que o ranking do Enem não irá acabar. O que irá mudar será a fonte das médias por escola. Veja.

(pular os argumentos e ir direto para a conclusão)

Até hoje o ranking do Enem foi produzido a partir do ordenamento dos dados divulgados em planilha eletrônica, pelo MEC. A primeira e segundas edições da planilha continham em uma das colunas uma média geral, e a partir delas os meios de comunicação geravam os rankings nacionais, estaduais e municipais.

O interesse da sociedade, em ter algum parâmetro de comparação entre as escolas privadas, foi fundamental para entender a forte repercussão que esses rankings trouxeram. Por consequência algumas escolas aproveitaram o interesse e credibilidade associados as notas no Enem, e passaram a utilizar essas colocações como conteúdo de propaganda. Logo, logo as escolas colocaram os alunos para estudar mais e algumas criaram mecanismos para melhorar seus resultados e assim se posicionarem melhor nos rankings. Diga-se de passagem mecanismos legais e alguns questionáveis.

Como resposta o Inep passou a não mais divulgar nas planilhas uma média geral e a divulgar dados somente de escolas com mais de 50% de taxa de participação. Porém, a “cultura” de cálculo dessa média geral já era forte e a partir da médias em cada área, os rankings continuaram a ser calculados e divulgados.

Não interessado em ser xerife do Enem, o Inep passou a publicar um conjunto maior de dados, para que estes fossem incorporados no cálculo dos rankings e utilizados para ponderar o posicionamento das escolas. Assim, nível socioeconômico, taxa de permanência, médias das 30 maiores notas de alunos, passaram a ser divulgados. A ponderação da mídia ao divulgar os resultados, as propostas de outras formas de se calcular o ranking e o crescente interesse das escolas pelos microdados, são resultados concretos da melhoria na divulgação dos resultados no Enem.

Não é objeto desse artigo, discutir as inúmeras possibilidades, ao alcance do Inep, para inibir ações questionáveis, de algumas dezenas de escolas (dentre as mais de 15.000 que possuem resultados divulgados). Ou das diversas possibilidades para a divulgação restrita das médias, de forma a permitir que a escola, pudesse avaliar e comparar o seu desempenho. Porém está claro que o argumento de uso dos resultados para o marketing não procede para justificar a não divulgação de qualquer resultado para as escolas ou o investimento de milhões de reais na ampliação de cobertura da Prova Brasil.

Nota no Enem não é só para rankings


Para ocupar o espaço do Enem, como medida de avaliação das escolas, o MEC informou que irá produzir para todas as escolas com ensino médio, seja pública ou privada, o Ideb (Indice de desenvolvimento da educação básica). Para tanto será necessário realizar censitariamente a Prova Brasil em todos os 3º anos do ensino médio, já que a nota dessa avaliação é um dos componentes do Ideb.

Com o vertiginoso crescimento na oferta de vagas em universidades públicas (via Sisu) e o uso da nota do ENEM em processos seletivos de faculdades privadas, os resultados no exame passaram a ser ainda mais relevantes para pais e dirigentes de escolas. Então para além da comparação entre escolas, as médias da escola no Enem são o melhor indicador das chances de ingresso dos alunos no nível superior .

O desconhecimento sobre o nível de dificuldade da Prova Brasil, a dúvida sobre seus resultados (afinal qual a motivação dos alunos para esta prova? Será que a taxa de participação será maior do que a do Enem? Quando irá ocorrer? Cadê o edital? ) e desconexão entre essa prova e o futuro dos alunos, reforçam que de saída, o Ideb não irá ocupar o lugar do Enem. Pelo menos para os estudantes, seus pais e grande parte da sociedade.

Porém, não havendo a divulgação das médias pelo Inep, como a sociedade e as escolas irão consultar os resultados no Enem?

A divulgação das médias no Enem já não é exclusividade o Inep (que o faz através de uma planilha eletrônica, disponibilizada para download). Algumas iniciativas já disponibilizam de forma permanente as médias das escolas, inclusive com recurso de filtros que permitem encontrar rapidamente o resultado de uma escola e comparar seus resultados com escolas de mesmo perfil.

O site enemporescola.com.br é uma dessas iniciativas. Segundo Ricardo Fritsche, responsável pela área técnica do site, os resultados continuarão sendo ali disponibilizados pois foram calculados à partir dos microdados.

“Havendo a divulgação dos microdados, temos condições de calcular a média de qualquer escola”, afirma Fritsche.

Como a divulgação dos microdados é protegida pela Lei de Transparência, não só portais da internet como as instituições educacionais e veículos de imprensa, poderão calcular as médias de qualquer escola. Basta contar com o serviço de um estatístico.

O tempo dirá qual(is) a(s) fonte(s) que as instituições e a sociedade irão utilizar para ter acesso às médias no Enem. Mas é certo que, pela crescente adesão das universidades e faculdades à prova, pelas incertezas sobre a Prova Brasil e pela obrigatoriedade de divulgação dos microdados, as médias do ENEM têm vida longa para as escolas e para a sociedade.

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