O Enem não é uma política de governo. É uma política de estado.
Nas palestras ou workshops que ministro e que tem o Enem como foco, quase sempre pronuncio essa frase. Para além de conquistar a atenção inicial da plateia, acredito sinceramente nesta afirmação e pronuncio ela para deixar claro a visão de que o Enem veio ficar. Essa conclusão não pela análise do discurso. São os dados e ações governamentais é que dizem. Veja o gráfico abaixo.
O Enem nasceu e cresceu na gestão de Fernando Henrique (1998-2002) e teve um hiper crescimento ao longo da gestão de Lula (2003-2010) e de Dilma (2011-2014). Sabemos que tratam-se de gestões com propostas distintas para o país (inclusive com cada partido sendo oposição declarada durante a gestão do adversário). Porém, para o Enem, as sucessivas gestões implementaram uma série de ações voltadas ao fortalecimento do exame.
A força dessas políticas pode ser ilustrada pela taxa de 5.400% de crescimento das inscrições ao longo das 16 edições do exame. Para entender esse crescimento vertiginoso, apresentamos algumas datas e eventos marcantes dessa história.
1998 – lançamento do Exame Nacional do Ensino Médio – Enem. Tratava-se de uma prova voltada a apresentar ao aluno, concluinte do ensino médio, um diagnóstico quanto ao nível de domínio das competências e habilidades atingidas ao final do ensino básico e ao estado ter um indicador de qualidade do aprendizado do alunado brasileiro. A participação é voluntária e há cobrança de uma taxa de inscrição. Se inscrevem nesta primeira edição 157.000
2001 – Alunos egressos de escolas pública, concluintes da modalidade EJA e bolsistas em escolas privadas passam a ter direito da isenção da taxa de inscrição. Outros candidatos podem solicitar a isenção na taxa, desde que atendem as condições de carência. O número salta para 1.600.000 inscritos.
2005 – A participação no Enem é condição para a obtenção de bolsa no programa ProUni, lançado no ano anterior pelo Governo Federal, através do qual alunos poderão ter bolsas parciais ou integrais para o pagamento das mensalidades em cursos superiores privados. O impacto dessa medida é sentida nas inscrições que dobram, chegando a mais de 3.000.000
2009 – O Enem deixa de ser um exame do ensino médio e passa a exame para ingresso no ensino superior (apesar de manter o nome). Para se adequar as demandas das universidades federais, o Enem sofre grandes modificações. Além das mudanças no instrumento de avaliação é lançado o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), uma plataforma através da qual as universidades podem oferecer suas vagas. O número de inscritos sobe para 4.500.000.
2011 – A participação no Enem passa a ser condição para a obtenção do Fundo de Financiamento do Estudante do Ensino Superior (Fies) ou do programa Ciência Sem Fronteiras. A plataforma Sisu passa a ofertar 83.000 vagas. Nesta edição do Enem temos 6.200.000 inscritos.
2014 – No início de 2014, por decreto presidencial todas as universidades e faculdades federais são obrigadas a conceder para alunos egressos de escolas públicas, isenção total da taxa de inscrição para os seus vestibulares próprios. As instituições fazem as contas e verificam que não tem como bancar o custo dos vestibulares próprios. O Sisu passa a ofertar 170.000 vagas, o Fies amplia no número de financiados e o programa Ciência Sem Fronteiras amplia a oferta de bolsas . O número de inscritos no Enem chega ao recorde de 9.500.000.
2015 – O Enem parece ter encontrado o seu limite natural em máximo de inscrições. Afinal boa parte dos alunos egressos do ensino médio já se inscrevem no exame e as políticas públicas de atratividade perdem suas forças. Há um recuo no número de inscritos que chega a 7.700.000
2016 – Não há novidades que possam repercutir em novo surto de crescimento nas inscrições. Mesmo a expansão do Sisu, não terá força para o exame bater o recorde de 2014. A expectativa otimista do MEC fala em 8 mi de inscritos. Qual a sua aposta? Deixe nos comentários a sua estimativa.
Referências:
Edições do Enem: wikipédia , Sisu: wikipédia, Fies: wikipédia, Ciência Sem Fronteiras: wikipédia, Decreto presidencial: Casa Civil